quarta-feira, maio 23, 2012

Notícias da Covilhã: Grande Reportagem - Na Banda, os Pais Aprendem com os Filhos - Sinfonia de Gerações

Quando na Páscoa Vasco Valério, 39 anos, integrou pela primeira vez a Banda da Covilhã, na Procissão dos Passos, apesar das limitações, ninguém diria que cinco meses antes não sabia identificar uma nota nem nunca tinha tocado um instrumento. Em Dezembro a direcção da filarmónica sugeriu que os pais dos alunos formassem uma turma e fossem aprender solfejo, na iniciativa “Música de Filhos para Pais”. O operador de ETAR encarou o desafio como uma forma de estar mais perto dos filhos, ao mesmo tempo que se iniciava numa actividade que sempre lhe agradou, e não hesitou. Agora, agarrado à corpulenta tuba, que o filho mais velho também toca, é difícil perceber quem é o mais entusiasmado. Os tempos livres são passados em conjunto, a ensaiar na garagem, e a esposa também já foi contagiada. As aulas de solfejo, que decorrem a par dos ensaios, passaram a ser uma necessidade indómita. Pratica exaustivamente. Procura vídeos e tutoriais na Internet, marca aulas extra com o professor. “A música é uma coisa que quanto mais a pessoa aprende, mais quer saber”, frisa Vasco, o mais avançado do grupo, embora num nível ainda distante dos filhos, que lhe dão dicas e o ajudam a estudar. “Nunca me imaginei com esta idade a aprender música, mas ao meu ritmo vou aprendendo satisfatoriamente”, realça Vasco Valério. Também não calculou adquirir os conhecimentos que agora evidencia, “mas apercebemo-nos que conseguimos fazer sempre mais que o que imaginamos”, acrescenta, enquanto vai fazendo exercícios para apurar a técnica, que a fase de soprar na tuba e ficar com os lábios lesos e dores abdominais já está ultrapassada. “Todas as idades são boas para aprender” - Olga Leitão lê os tempos da pauta ao ritmo das palmas, em simultâneo diz o nome das notas. Engana-se. Pára. Volta a tentar. Os colegas, tal como a professora, Filipa Terra, marcam o compasso com as batidas da caneta em cima da mesa. Não é a primeira vez que tem uma partitura à frente. Quando tinha 13 anos andou na Banda da Covilhã, mas o pouco que aprendeu a borracha do tempo apagou da memória. Desistiu para ir trabalhar, aos 14 anos. Agora, aos 43 anos, voltou ao solfejo, com o apoio e incentivo da filha, Inês. “As notas que saem da pauta” e ficam nas linhas superiores e inferiores são o que mais lhe dá que fazer. A falta de tempo para praticar mais é motivo de queixa. “Isto vai lentamente, mas não há nada que não se faça”, frisa. Perante a possibilidade de aprender música, a resposta foi imediata. A filha, aprendiz de clarinete, riu-se, tal como os restantes colegas que iam ter os pais também a aprender na Banda. Custava-lhe imaginar esse cenário. Agora é a principal motivação da mãe e a actividade tornou-se mais um elo em comum e tema de conversa entre ambas. “Olha, é a minha mãe!”, alerta Inês, entusiasmada. À porta da sala de aula, ela e outra Inês, Fernandes, ambas de 13 anos, escutam o desempenho das progenitoras. No início estavam presentes no interior, mas percebeu-se que os filhos eram elementos desestabilizadores nesta fase, por estarem mais avançados, e passam a ajudar apenas nas lições instrumentais. Olga gostava de aprender clarinete, tal como a filha, que constantemente a estimula a estudarem juntas. “Se connosco foi possível, com eles também é. Todas as idades são boas para aprender música e este grupo é um exemplo”, diz Inês Leitão, com indisfarçável orgulho. Em casa, conta, a mãe faz-lhe perguntas, pede sugestões. “Eu acho que a maior dificuldade é começar, o resto depois vai com o ritmo”, acredita Inês. (Reportagem completa na edição papel) - Ana Ribeiro Rodrigues IN: http://www.noticiasdacovilha.pt/

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