Veio para a UBI como docente nas Ciências da Saúde, mas foi com a música que José Eduardo Cavaco se tornou uma figura conhecida na cidade. É o responsável pelo “ressuscitar” da Banda e pela realização de projectos inovadores, como por exemplo o “Covilhã Filarmónica” e o “Estágio da Banda”, que mereceram o aplauso unânime da comunidade covilhanense.
JORNAL DO FUNDÃO – Como veio parar à Covilhã um alentejano de Moura?
JOSÉ CAVACO – Trabalhava na Universidade do Algarve e, uma manhã, comprei um jornal onde vi um anúncio para a Faculdade das Ciências de Saúde (FCS). Enviei o curriculum, chamaram-me para uma entrevista e, no final, perguntaram-me quando queria começar. Um mês depois estava na Covilhã, onde vivo há cinco anos. Veio para dar aulas na UBI? Vim trabalhar como docente na FCS e também como investigador. Na FCS da UBI encontrou um método de ensino inovador? Já tinha uma opinião formada sobre o método clássico de ensino da Medicina, que ainda persiste em muitas instituições do ensino superior em Portugal e que está desactualizado. Aquela coisa do professor todo poderoso que está em cima do estrado, que só ele é que sabe, está totalmente ultrapassada. Hoje é importante haver uma interacção em que a aprendizagem é centrada no aluno e não no professor. Na UBI, o aluno passa por um processo actual de aprendizagem de descoberta, de procura, pesquisa, de pensar activamente. Isto é muito importante na formação de consciências críticas, na competitividade, num melhor profissionalismo e desempenho. É professor na área da saúde mas foi o seu “hobi”, a música, que fez de si o alentejano mais famoso da Covilhã? A minha vocação foi sempre a de ensinar e, na UBI, faço o que gosto. A música é um hobi. Desde pequeno que tocava na Banda da minha terra e quando vim para a Covilhã fui para o Conservatório onde fiz o oitavo grau de clarinete. Depois comecei a cantar no Orfeão. Como entrou para a Banda? Enviei o curriculum, telefonaram-me e fiquei. O processo gerou alguma polémica porque a direcção dispensou a pessoa que estava à frente da escola de música. Entretanto o presidente da direcção da Banda demitiu-se, entrei para vogal e nas anteriores eleições fui vice-presidente. Actualmente sou o presidente. E também o maestro? Prefiro chamar-lhe director artístico porque não estou nesse patamar de maestro. Em pouco tempo “revolucionou” a Banda que antes estava adormecida...Quando cheguei tínhamos apenas oito músicos. Tivemos que pensar uma estratégia e desenvolver projectos mas não foi fácil. No primeiro ano abrimos inscrições, divulgámos e promovemos a Banda mas não tivemos adesões. Este ano já conseguimos 44 inscrições para a Escola de Música. Quantos músicos tem a Banda da Covilhã?Geralmente trabalhamos com 25 músicos. São alunos da Epabi, da UBI, são amigos de outras bandas que aderiram aos nossos projectos. A grande aposta é a Escola de Música?Da Escola de Música é que vai nascer a nova Banda da Covilhã mas temos dificuldades porque o projecto custa dinheiro e o nosso ensino é gratuito. Vão abrir novos pólos da Escola de Música?Pretendemos abrir pólos nas sedes do Grupo Desportivo da Mata e do Académico dos Penedos Altos. Há outros projectos? Pretendemos repetir, em 2008, o concerto da Primavera assim como o Moda-Música, uma mistura de dinamização do comércio e do centro histórico que resultou muito bem; lançámos o primeiro Covilhã Filarmónica, projecto apoiado a cem por cento pela Câmara que juntou todas as bandas do concelho e iremos lançar a segunda edição. Fizémos o segundo Estágio da Banda da Covilhã, também com reconhecido êxito; as Férias Dó, Ré, Mi, actividades de tempos livres que também teve boa aderência. Na semana passada lançámos o projecto “Música na Idade Adulta”. Devido à divulgação da Escola da Música, aconteceu um fenómeno muito interessante, tivemos mais de 10 inscrições de pessoas entre os 40 e os 63 anos. Pretendemos lançar um livro sobre a obra de Alice Peixeiro e outro com as obras completas originais do maestro Campos Costa. É um documento extraordinário e esperamos encontrar apoio na Câmara ou de um mecenas. E o Museu dos Sons?Elaborámos um pré-projecto para a criação do Museu dos Sons que já foi apresentado e oferecido à Câmara Municipal. Trata-se de um projecto muito revolucionário que pode ser uma mais-valia para a Covilhã. Não se podem queixar da falta de apoio da Câmara? A Câmara sempre apoiou a Banda. Basta lembrar que quando a sede da associação ardeu, foi a autarquia que disponibilizou as actuais instalações, pagando a renda, a água e a luz. Não nos podemos queixar porque a Câmara sempre nos apoiou. Ultimamente o apoio tem sido ainda mais notório. A Banda organizou várias iniciativas duante este ano que, de facto, tiveram o apoio da Câmara. O Estágio da Banda Sinfónica foi financiado pela autarquia com mil euros; o Covilhã Filarmónica foi também todo suportado pela Câmara. Realmente há uma disponibiliadde para analisar e apoiar os projectos da Banda e isso é muito positivo. Que pensa da decisão da Câmara de comprar o Teatro-Cine. É, sem dúvida, uma mais-valia. Pessoalmente, talvez defendesse uma construção de raiz, mas compreendo a tradição do centro histórico. É uma aposta importante e espero que resulte. O edifício é excelente. Como define a Covilhã no plano cultural? Conhecendo a realidade do Algarve, Alentejo, Porto e até da Holanda onde estudei durante cinco anos, bem como outras realidades culturais, penso que a Covilhã tem um potencial enorme e que precisa de ser ainda mais valorizado. Tirando Lisboa e o Porto, não conheço outra cidade que tenha três grupos de teatro como a Covilhã. Tem nove bandas filarmónicas, tem mais de 300 associações em actividade. São muitos os eventos que se realizam na cidade e se formos a contabilizar haverá mais de 30 mil pessoas que por ano vão ao Teatro-Cine ver espectáculos. Covilhã é um bom exemplo em termos musicais? A Covilhã, no campo musical, foi e é muito forte. Basta lembrar que já há 100 anos havia cinco bandas filarmónicas só na cidade. Em 1926 surgiu o Ofeão com 300 vozes. Nos anos 40 surgiu o Conservatório e em 80 criou-se a EPABI. Temos os concursos, muito importantes, de piano e de arcos. E a Juventude Musical. A Covilhã tem excelentes músicos que estão por esse mundo fora como profissionais. E há a Associação Cultural da Beira Interior, um nicho de aprendizagem e de formação musical. Não devia haver uma maior aproximação entre a UBI e a cidade no campo cultural e associativo? No caso da Banda da Covilhã, abrimos as portas à juventude, temos protocolos com núcleos de estudantes. A UBI é um grande potencial mas por vezes falta informação para promover essa maior aproximação. As pessoas nem sempre estão abertas mas a uma grande maioria faltará informação. Quando cheguei à Covilhã tornei-me assinante do “Jornal do Fundão” porque tenho interesse e é importante saber o que se passa na cidade e na região. Há alunos da UBI na Banda? Temos sete músicos, alunos na UBI. Há gente da Madeira, Açores, Lisboa, Porto, Seia. Temos a preocupação de fazer a divulgação da Banda, nomeadamente durante o período das matrículas na UBI. Dos mais de 5 mil alunos da UBI, se calhar mil sabem música mas só ainda conseguimos a adesão de sete. Quando cheguei à Covilhã, propus à Associação Académica criar uma orquestra universitária com estudantes mas depois como passei a integrar a Banda da Covilhã esse projecto ficou adormecido. A Banda vai comemorar, no um de Dezembro, 63 anos. Já há programa? Está a ser ultimado e integrará um fabuloso concerto que se chamará “O Primeiro Covilhã em Directo”. Em que consiste? Vamos associar a música a outras vertentes. Haverá momentos de magia, vamos entrevistar pessoas conhecidas da cidade durante o concerto, além de outras surpresas. Se o tempo permitir também faremos o tradicional desfile, a romagem ao cemitério, o hastear da bandeira, iremos tocar o hino do 1.º de Dezembro e cumprimentar as pessoas nas ruas. Outra novidade, será a missa, em Conceição, com elementos da Banda que vão tocar e cantar. Vamos ter um dia aberto à cidade, visitas de escolas. Oportunamente iremos divulgar todo o programa do aniversário.Uma das carências da Banda são as instalações?A sede é, de facto, modesta, precisamos de instalações novas mas ainda servem para trabalhar. Conheço algumas colectividades da cidade que construíram gandes instalações mas que têm algumas dívidas e a quem faltam pessoas. Eu prefiro trabalhar ao contrário, quero ter pessoas em instalações modestas. Primeiro queremos músicos e instrumentos. Durante o aniversário vamos lançar a campanha da “Prenda”, aos mecenas, esperando que alguém nos ofereça os instrumentos que necessitamos. Durante as aulas na UBI também se fala de música? Quando faço a apresentação aproveito sempre para falar nos tempos livres para estimular os alunos e para mostrar a parte positiva da música. E quando há concertos convido-os. Acho que isso também é importante e faz parte da formação. A música é importante na saúde? Claro que sim, aliás existe a músicoterapia. A música tem muitas vantagens e para se tocar um instrumento musical tem de se apelar à memória, ao nome das notas, do piano, do crescendo, tem de se apelar à parte física, porque é necessário mexer os dedos, ou cantar. A música é uma arte muito completa. Que faz bem à saúde.
2 comentários:
Grande Cavaco eheheh Abraço!
Pedro Sousa (Tbone):)
Parabens caro amigo Eduardo Cavaco.
PT - JFF
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