quinta-feira, maio 17, 2007

A proximidade das filarmónicas às crianças.

Ambos sabemos que hoje em dia muitas filarmónicas se deparam com inúmeros problemas relacionados com a sua sobrevivência, nomeadamente problemas relacionados com: a falta de rejuvenescimento dos seus quadros; com aspectos financeiros que possam permitir a contratação de professores creditados e competentes; e a aquisição de instrumentos; com as direcções competentes capazes de conduzir um determinado projecto; mas raramente é mencionado o papel que uma criança pode ter numa filarmónica e vice – versa, ou então o contributo que uma filarmónica pode ter na formação pessoal e académica de uma criança.
As filarmónicas hoje em dia podem debater-se com inúmeros problemas, mas se não apresentarem incentivos credíveis às crianças e aos jovens, estes por si só, lamentavelmente, não as procuram.
Com os tempos que correm, cabe a direcção artístico-pedagógica das Escolas de Música das bandas filarmónicas ir ao encontro das crianças, criando para este fim inúmeras actividades que possam despertar a sua atenção e curiosidade. Neste ponto gostaria de realçar a importância que pode ter um concerto pedagógico, pois, partindo de uma canção do cancioneiro infantil, a mesma pode ser adaptada à instrumentação utilizada numa banda filarmónica e ser interpretada no referido concerto. Através da sugestão anteriormente apresentada, as crianças ao depararem-se com a audição de canções infantis interpretadas pela banda, que lhes sejam familiares, facilmente ficam despertas para os instrumentos musicais utilizados e posteriormente apresentados, se possível no final de cada sessão haver um período destinado à experimentação prática de instrumentos musicais.
Quando uma criança chega a uma filarmónica com a finalidade de iniciar a sua aprendizagem musical, a mesma deverá ser feita tendo em atenção a sua idade física e cronológica, ou seja, deveremos partir da brincadeira musical, para podermos chegar à música séria.

Como conduzimos uma criança, à música séria?
Aparentemente pode ser uma tarefa difícil e só o é se o ensino musical for feito única e exclusivamente com base nos métodos tradicionalistas, ou seja, iniciarmos o ensino musical só com base na leitura rítmica (o tradicional Solfejo) e só passado um determinado número de aulas iniciarmos a aprendizagem de um determinado instrumento. Não descuidando a importância do Solfejo, mas todos nós facilmente chegamos à conclusão que uma criança com idades compreendidas entre os 6 e os 9 anos de idade apresentará grandes dificuldades em relação a vários aspectos relacionados essencialmente com uma capacidade: a visualização espacial; quer isto dizer que toda a aprendizagem musical da criança deve ser feita de forma simples e eficaz, partindo sempre de exemplos concretos, claros e objectivos, de preferência relacionados com o seu quotidiano. É necessário ensinarmos a criança a brincar com a música e com todos os elementos que lhe estão adjacentes (deverão ser realizados jogos com as notas musicais e outros) facultando-lhes uma aprendizagem sólida e saudável.
Quando falamos da aprendizagem instrumental a mesma deve ser feita em parceria com o estudo da formação musical/ auditiva permitindo assim uma maior facilidade da assimilação dos conceitos por parte das crianças, tanto do ponto de vista prático, como teórico. Este ponto permite não só uma aprendizagem musical mais rápida, como fortalece o entusiasmo da criança perante a arte musical.
Hoje em dia as bandas filarmónicas já apresentam nos seus quadros as chamadas bandas juniores, ou seja, são agrupamentos musicais nos quais as crianças (jovens músicos) podem adquirir hábitos musicais relacionados com a música de conjunto, tais como: tocar sobre a direcção de um maestro; tocar em conjunto com outros músicos; desenvolver a musicalidade, a afinação e a interpretação de pormenores técnicos. A banda júnior poderá funcionar como um forte incentivo às crianças, pois é um momento onde podem colocar em prática tudo o que aprendem nas aulas individuais de instrumento e fazerem pequenas demonstrações musicais (apresentando repertório adaptado às ocasiões) regulares nos estabelecimentos escolares no meio envolvente à banda filarmónica, incentivando deste modo os seus colegas a iniciarem a aprendizagem musical.
Este artigo pretende ser um reforço às estratégias de ensino utilizadas na aprendizagem musical de uma criança em Escolas de Música de bandas filarmónicas.
As Escolas de Música de bandas filarmónicas, hoje em dia, já vão apresentado credenciais que permitem adoptar as estratégias de ensino anteriormente apresentadas e adquirir o sucesso desejado, permitindo aos seus alunos o prosseguimento de estudos em conservatórios ou escolas profissionais.
José Miguel Rodrigues
Professor, maestro e compositor.

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